História do Fundador de Três Lagoas; Antônio Trajano Pereira dos Santos - Bolsão em Destaque de Três Lagoas
Colunista Rudi Guimarães

História do Fundador de Três Lagoas; Antônio Trajano Pereira dos Santos

Antônio Trajano Pereira dos Santos, nasceu no ano de 1854 em Ventania (atual Alpinópolis), Minas Gerais, mas decidiu se mudar junto com os seus irmãos, para a região de Sant’Anna de Paranahyba. Segundo alguns, isso aconteceu quando tinha 16 anos de idade, o que nos leva a crer que tenha participado o seu pai Antônio Pereira dos Santos e sua mãe Francisca Rosa de Azevedo. Esse início de história é um tanto nebuloso, pela precariedade de fontes escritas e a natural falta de relatos orais de contemporâneos.

Para conseguirmos alcançar informações sobre a sua família, utilizamos o trabalho de Gastão Renê Leal, descendente por via de sua mãe do irmão de Antônio Trajano, o Bernardino Pereira dos Santos que também venho desbravar aqueles sertões. Com isso achamos a sua filiação e o restante de sua família imediata, descobrindo que seus irmãos foram ativos no desbravamento da região leste de Mato Grosso do Sul.

Contraiu matrimônio com Maria Lucinda Ferreira (ou Garcia de Freitas), que era filha dos abastados fazendeiros Anicézio Ferreira de Mello e Laura Garcia de Freitas, portanto, neta de um dos fundadores de Paranaíba, Januário Garcia Leal. Esse entrelaço aproximou-o do clã mais influente da região, fundadores e desbravadores iniciais daquele povoado, que constituiu o alicerce para que outros pudessem fazer o mesmo no então sul de Mato Grosso.

Já a família de seu sogro, os Ferreira de Mello, encontravam-se anteriormente na cidade de Franca, São Paulo. Cogitamos que tenham ido para a região do Bolsão, após os trabalhos iniciais de exploração dos Garcia Leal, Sousa, Barbosa e Lopes. Encontrando-se, portanto, entre as famílias pioneiras. Até ao que podemos perceber, o líder desse clã era o pai de Anicézio, que juntos de seus filhos, mudaram-se para essa região. Constatamos em seu inventário algumas posses, entre as quais, a sesmaria Campo Triste, que contava com cerca de 140 mil alqueires, segundo Sá Carvalho (1918).

Em 1892, Antônio Trajano comprou parte de terras do Campo Triste, do tio de sua esposa Manoel Ferreira de Mello, que por sua vez as havia adquirido de seu primo José Ferreira Garcia. Essa provavelmente é a primeira posse do futuro fundador de Três Lagoas, em área que fariam parte do dito município anos depois. A compra era no valor de Rs 25$000 réis, com tamanho de área desconhecida, haja vista que a sesmaria era administrada em forma de condomínio e com divisas provavelmente fixadas entre o clã.

Posteriormente ele comprou a posse chamada de Alagoas, que pertencia à dois posseiros, requerendo-a do Estado com título definitivo em 1898, onde nasceria o maior fruto de seu legado em nosso estado, que muito se deve a sua sensibilidade e o empreendimento da NOB em ligar o então Mato Grosso aos grandes centros.

Com a chegada da ferrovia, muitos imigrantes instalaram-se em espaços de sua propriedade, o que levou por parte de Antônio Trajano uma atitude pioneira e sensata, a doação de 40 alqueires da Fazenda Alagoas, para formação de um patrimônio de nome de Santo Antônio das Alagoas, homenageando o seu santo de devoção e as Três Lagoas que encontravam-se em sua Fazenda.

Com o consequente desenvolvimento, Três Lagoas é elevada em 1914 à distrito, e em 15 de junho de 1915 a categoria de Vila, com o nome de Três Lagoas. Com a desapropriação da maior parte da fazenda Alagoas, para formação do município, decidiu-se mudar para uma região muito fértil, o Alto Sucuriú. Comprou partes de terras que pertenciam à primitiva posse “Pouso Alto” que na época estava em nome de João Marques Garcia. Após a compra feita, iniciou o processo de requerimento da área na Secretaria de Minas e Colonização.

Contudo, após a morte de João, possivelmente para impedir confusões, pagou à Saturnino Marques Garcia o valor de Rs 10:000$000, exigido pelo mesmo. O título definitivo saiu em 21 de março de 1928. A área em questão passou a ser denominada de Fazenda Córrego Fundo e a sua área era de 20.733,2824 (Vinte mil setecentos e trinta e três hectares e dois mil, oitocentos e vinte e quatro ares).

Com a morte de sua esposa em 1926, o patrimônio do casal era avaliado em Rs 132:565$000 em 12 de junho de 1927, Três Lagoas, por Augusto Corrêa da Costa.

O casal deixou os seguintes filhos:

1 – Olímpia Pereira dos Santos – Casada com o seu primo Mizael Ferreira de Mello (assinava também, Misael Paulino da Costa). Os seus filhos foram: Lázara Costa, Antônia Ferreira de Mello, Isabel Ferreira de Mello, Batistina Ferreira de Mello, Leonor Ferreira de Mello e Jorge Costa.
● Dentro dessa filiação, destacamos os nomes de Antônia e Jorge. A primeira por ter-se casado com Juscelino Ferreira Guimarães, que tornar-se-ia o fundador do distrito de Pouso Alto, desbravando junto com Antônio Trajano a vasta região do Alto Sucuriú, sendo também o tabelião do cartório local. Já no caso de Jorge Costa, notabilizou-se como criador de boi gordo, transformando a sua fazenda na mais bem montada na região.
2 – Alípio Pereira dos Santos – Casado em primeiras núpcias com Maria Francisca de Campos (ou Silveira), que após ter três filhos com o mesmo, fugiu para a terra de sua família em Minas Gerais. Então, Alípio, juntou-se com a viúva Francisca Teodora Nogueira, com quem teve mais filhos.
● O falecido advogado criminalista Adelson Pereira dos Santos, o Bigica, era seu neto através de sua filha do primeiro relacionamento, Manoela Pereira dos Santos.
3 – Brasiel Pereira dos Santos – casou-se com Inocência Gomes Pinheiro.
4 – Maria Pereira dos Santos – casou-se com o seu primo João Alves Ferreira, que posteriormente adotou o sobrenome Ferreira Vida, a exemplo de outras de sua família.
5 – Adolfo Pereira dos Santos – casou-se com sua prima Petronília Pereira dos Santos, filha de Delfino Pereira dos Santos e da goiana Francisca Vicência dos Santos. Tornou-se dono de cerca 12.000 hectares da fazenda que era de seu pai, através da compra de terras de outros herdeiros. Cansado daquela lida, vendeu-a para um deputado, mudando-se para a cidade de Três Lagoas, onde comprou um hotel.
6 – Laudelina Joana dos Santos – Seu primeiro marido foi Francisco Severino Garcia, com quem teve um filho. Após a sua viuvez, casou-se com Tertuliano Ferreira de Mello, seu primo, fugindo depois com Antônio Bruno Germano, gerando descendência.
● Ela é a ancestral do conhecido médico Marco Lúcio Trajano dos Santos, através de seu filho, o professor Sebastião Trajano dos Santos, cujo pai não sabemos quem era.
7 – Hermínia Isabel dos Santos – foi casada com Pedro Martins Ferreira.
8 – Jorgina Pereira dos Santos – foi casada com o gaúcho Gregório Martinelli, geraram grande descendência na região do Alto Sucuriú. Inclusive, o vereador Davis Martinelli Leal do Santos é seu descendente.
9 – Abadia Pereira dos Santos – casada com o seu primo Adolpho Garcia Leal.
10 – Sebastião Garcia dos Santos – foi casado com a sua prima Olyria Leal de Azambuja. Entre a sua descendência, encontramos os médicos Maldonat Azambuja Santos e Otão Azambuja Santos, além do dentista Rudá Azambuja Santos, que chegou a ser vereador em Campo Grande pelo PTB.
11 – Maria Rosa dos Santos – foi casada com Pedro Celestino Torres.

Antônio Trajano faleceu quase 9 anos após a sua esposa, em sua fazenda no Alto Sucuriú, deixando um relato interessantíssimo de sua morte:

”Na festa de casamento de Otília Martinelli com o seu primo Jerônimo Garcia Leal, no dia de São João, no ano de 1935 toda a antiga família Santos e Garcia reuniu-se em festa. Ali Arnaldo Pereira dos Santos, seu primo, tocava a moda preferida de seu avô Antônio Trajano dos Santos. Até que muitos começaram a praticar um antigo costume de ver a sombra sobre a água, sob a luz de um candeeiro, quando então entre todas as sombras projetadas, somente uma não apareceu. Era a sombra de Antônio Trajano, percebendo essa falta, pré-disse que sua morte estava para acontecer naquele mesmo dia.

As suas palavras tiveram de facto efeito, veio a falecer na festa de sua neta Otília Martinelli, instantes antes da meia-noite.”

Como consta no Inventário, Antônio Trajano ficou com parte de terras advindas do Inventário de sua esposa, uma área de 9.286 (Nove mil duzentos e oitenta e seis hectares) hectare, mais uma parte de 241,02,73 (duzentos e quarenta e um hectares dois ares e setenta e três centiares) que adquiriu de sua neta Oliria Moreira Vida e de seu esposo Manoel Batista Moreira, no valor de Rs 1:205$000 lavrado em Água Clara, pelo Juiz de Paz Aluizio Vanich.

A avaliação da maior porção era de Rs 46:430$000 e a menor em Rs 1:205$137, constando uma casa coberta de capim com rego d’água, paiol, casa de monjolo e, dois pastos cercados de arame avaliados em Rs 10:000$000.

Dívidas Ativas

Um documento firmado por Gregório Martinelli, no valor de Rs 7:000$000 (Sete contos de réis).

Um documento firmado por Juscelino Ferreira Guimarães no valor de Rs 700$000 (Setecentos mil réis).

Um documento firmado por Areolino Ottoni no valor de 448$000 (Quatrocentos e quarenta e oito mil réis).

Excesso da Fazenda Alagoas, deixada a cargo por Sebastião Garcia dos Santos, herdeiro e filho, no valor de cerca de Rs 1:000$000.

fontes:

Inventário de Maria Lucinda de Freitas – processo:021.27.000011-0.
Inventário de Antônio Trajano dos Santos – processo:021.35.000005-1.

Relato Oral:

  • Adelaide Teodora dos Santos (bisneta).
  • João Ferreira Guimarães (bisneto).
  • Alda Teodora dos Santos (bisneta).
  • Urbano Ferreira Guimarães (bisneto).
  • Rudá Teodoro dos Santos (bisneto).
  • Vereador de Três Lagoas, Davis Martinelli Leal dos Santos (tetraneto).

Antônio Trajano dos Santos, já em idade avançada. Foto cedida por Thiago Castilho de Mello, seu tetraneto.

Adolfo Pereira dos Santos, um dos filhos de Antônio Trajano. Fonte: Desbravadores de Sertões – saga e genealogia dos Garcia Leal. GARCIA, Elio Barbosa.

Sebastião Garcia dos Santos, filho mais novo de Antônio Trajano. Fonte: Desbravadores de Sertões – saga e genealogia dos Garcia Leal. GARCIA, Elio Barbosa.

Mizael Ferreira de Mello, genro de Antônio Trajano e Maria Lucinda, marido de Olímpia Pereira dos Santos. Era filho de Antônio Paulino da Costa, desbravador da região de Três Lagoas e de Maria Rita Ferreira de Mello, ambos primos de Maria Lucinda, netos do sesmeiro João Ferreira de Mello. Foto cedida por Ruth Narciso Guimarães, encontrando-se hoje na Fazenda Pouso Alto.

Antônia Ferreira de Mello, esposa de Juscelino Ferreira Guimarães, filha de Mizael e Olímpia. Foi criada por seus avós, Antônio Trajano e Maria Lucinda na Fazenda Córrego Fundo. Foto cedida por Ruth Narciso Guimarães, sua neta.

Jorge Costa, filho de Mizael e Olímpia, e sua esposa Enedina Ottoni. Ainda muito jovem perdeu os seus pais, terminando de ser criado por seus avós Antônio Trajano e Maria Lucinda. Foto cedida por sua filha, Regina Lúcia Ottoni Costa.

Alancardec Teodoro da Fonseca, filho de Arnaldo Pereira dos Santos e Izabel Teodora da Fonseca (ou Nogueira), neto por parte de pai de Alípio Pereira dos Santos e Maria Francisca de Campos, e por parte de mãe de Francisco Januário Garcia e Francisca Teodora da Fonseca. Era bisneto de Antônio Trajano, conhecendo-o muito, sendo uma das nossas fontes diretas. Foto cedida pelo próprio em Água Clara ao seu sobrinho-neto Rudi Guimarães.

Colunista: Rudi Matheus Resende Guimarães nasceu em 05 de julho de 1995 em Três Lagoas. É tetraneto do fundador de nossa cidade e se formou em História pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Atualmente é mestrando em Estudos Medievais, e reside em Matosinhos, Portugal.

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