O Projeto da Feira de Gado de Três Lagoas: Um Sonho Não Realizado, agora só resta o Obelisco

Na cidade de Três Lagoas, o Obelisco da Pedra Fundamental ergue-se como um monumento solitário, remanescente de um grande sonho que nunca se concretizou. Este obelisco, construído como marco inicial da Feira de Gado de Três Lagoas, permanece até hoje como testemunho de um projeto ambicioso que visava transformar a cidade em um dos maiores centros agropecuários do Brasil. Embora a feira nunca tenha se materializado, o obelisco serve como um símbolo duradouro das aspirações de uma época, representando o desejo de progresso e desenvolvimento de uma região que buscava se afirmar no cenário nacional.

Em 19 de dezembro de 1920, a cidade de Três Lagoas, então parte do estado de Mato Grosso, viu suas aspirações agropecuárias serem estampadas nas páginas do jornal “Gazeta do Comércio”. A publicação anunciava a ambiciosa criação de uma Feira de Gado, planejada para transformar a cidade em um centro econômico e agropecuário de destaque. Contudo, apesar das grandes expectativas e da intensa mobilização, essa feira jamais entrou em funcionamento, permanecendo como um sonho não realizado.
O Projeto da Feira: Expectativas e Planos
A proposta da Feira de Gado de Três Lagoas era grandiosa. De acordo com o jornal, a feira seria um local onde criadores de gado de diversas regiões poderiam se encontrar para negociar, aprender e expandir seus negócios. A ideia era que a feira não apenas servisse como um mercado de gado, mas também como um ponto de encontro para troca de conhecimentos e desenvolvimento de novas técnicas agropecuárias.
Para que essa visão se tornasse realidade, o projeto incluía a construção de uma série de instalações modernas e robustas. As imagens publicadas na “Gazeta do Comércio” revelam o cuidado arquitetônico planejado para a feira. Eram projetadas edificações que incluíam áreas administrativas, escritórios, alojamentos e outras infraestruturas necessárias para receber visitantes e criadores de gado de todo o país.
O Projeto Arquitetônico: Detalhes e Ambições
O jornal ilustra duas imagens principais relacionadas ao projeto arquitetônico da feira. A primeira imagem representa a fachada da residência do administrador da feira, enquanto a segunda mostra o projeto dos escritórios e da Casa da Feira.
- Residência do Administrador:
- A residência projetada era uma construção imponente, refletindo a importância do papel do administrador na gestão da feira. Com uma fachada clássica, a residência combinava elementos arquitetônicos tradicionais com a funcionalidade necessária para acomodar o responsável pela feira e suas operações diárias. Essa edificação não só servia como moradia, mas também como um símbolo de autoridade e organização.

- Escritórios e Casa da Feira:
- O segundo projeto detalhado no jornal era dos escritórios administrativos e da Casa da Feira. Esse edifício era essencial para a gestão das operações diárias e para o atendimento dos criadores e visitantes. A estrutura era desenhada para ser funcional e ao mesmo tempo representar o caráter inovador da feira. A atenção aos detalhes arquitetônicos visava impressionar os participantes e consolidar a imagem de Três Lagoas como um centro de excelência na pecuária.

Por que a Feira Não Prosseguiu?
Apesar dos planos elaborados e do entusiasmo inicial, a Feira de Gado de Três Lagoas enfrentou uma série de desafios que impediram sua concretização. Diversos fatores contribuíram para o fracasso do projeto:
- Questões Econômicas:
- A economia regional na época estava em desenvolvimento, mas ainda carecia de estabilidade e de capital suficiente para financiar projetos ambiciosos como a feira. As dificuldades financeiras afetaram diretamente a capacidade de construção e manutenção das instalações necessárias.
- Logística e Infraestrutura:
- Três Lagoas, apesar de seu potencial, ainda enfrentava limitações em termos de infraestrutura de transporte e comunicação. A falta de estradas adequadas e de meios de transporte eficientes dificultou o acesso à cidade por parte de criadores e compradores de outras regiões, limitando o alcance da feira.
- Competição e Outros Mercados:
- Outras regiões do Brasil, já estabelecidas como centros agropecuários, ofereciam uma concorrência significativa. Criadores de gado preferiam participar de feiras em locais com uma infraestrutura melhor desenvolvida e uma base de compradores já consolidada, o que fez com que a feira de Três Lagoas perdesse atratividade.
- Política e Governança:
- A falta de apoio governamental sólido também desempenhou um papel crucial no fracasso do projeto. Sem incentivos fiscais ou subsídios do governo, o custo de implementação e manutenção da feira se tornou proibitivo para os organizadores locais.
O Legado do Projeto: Lições e Reflexões
Embora a Feira de Gado de Três Lagoas nunca tenha se materializado, o projeto deixou lições importantes para a cidade e para a região. A tentativa de criar um evento dessa magnitude demonstrou a ambição e a visão dos líderes locais em transformar Três Lagoas em um polo agropecuário.
Além disso, a documentação detalhada do projeto arquitetônico e a cobertura na imprensa da época servem como um testemunho do espírito empreendedor dos pioneiros de Três Lagoas. O fracasso do projeto pode ser visto não como um simples insucesso, mas como uma etapa no processo de desenvolvimento da cidade, que mais tarde se consolidaria como uma das mais importantes do estado de Mato Grosso do Sul.
A Feira de Gado de Três Lagoas permanece na história como um símbolo das aspirações de uma comunidade que buscava se afirmar no cenário nacional. Apesar de não ter sido realizada, a feira é uma lembrança de que o progresso muitas vezes é pavimentado por tentativas audaciosas que, mesmo não se concretizando, deixam marcas indeléveis no desenvolvimento de uma região.
Seja como uma oportunidade perdida ou como um marco na história de Três Lagoas, o projeto da feira de gado continua a ser uma parte fascinante do passado da cidade, ilustrando os desafios e as ambições de uma época em que o Brasil ainda estava moldando seu futuro agropecuário.
Por Yuri Spazzapan
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